sexta-feira, 24 de junho de 2016

inacabado do acervo (1)

Não sei fazer poemas de amor... falo e escrevo da parte mais dolorosa do sentimento, dos corpos em chamas perante sua fúria inesgotável... mas ignoro toda a ternura de suas palpitações. São, para mim, sinistras: prenúncio de dor maior a se seguir. Aquela dor de rejeição e abandono, aquela que conhece quem não foi sempre feliz, quem aprendeu a conviver consigo mesmo com certa frequência sem, no entanto, amar-se. Concluo que não amo... não sei o que é isso... e quando me dizem que amor não existe, tendo a concordar. Mas que é aquilo, então, que me bate e esmaga o peito, me soca a barriga, me embriaga em estupor idiota? O que é aquilo que, me faz ver naquela pessoa a ânsia pela felicidade, esta coisa de tolo e iludido? Será desejo? O desejo íntimo de meu coração de, enfim, ser feliz? E a cada um

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Samba da Miséria

Moço,
a vida tá osso,
cansei de viver no desgosto,
me dá um trocado pra eu comer?!

Moço,
a vida de pobre,
de quem só se fode,
é tentar sobreviver.

Moço,
me escute bem,
eu bem que queria estudar,
mas tenho que arrumar dinheiro
para eu e minha familia se alimentar.

Moço,
procure escutar,
você com essa maleta de couro.
Couro meu é rasgado todo dia,
pobre não tem cidadania.

Moço,
tente entender,
porque eu não quero teu paletó e jaleco,
nem tampouco seu relógio sueco,
só quero um trocado para poder comer.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Os fatos... os fardos... farto

É com um enorme, enorme pesar, de olhos semicerrados e coração partido que, sob as olheiras e dedos calejados, reconheço: não sei escrever.

Encerro-me.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

põe minha dor junto à sua, carregando em lágrimas a força, a coragem e a doçura do sofrimento velado. te beijo e sinto o gosto salgado de sua alma. penso que te amo...
Você que me fala da vida sem nunca ter perdido, sem nunca ter consolado, sem nunca ter amado...
Você que me fala dos homens sem nunca ter encostado a orelha fria no morno peito para ouvir o ritmo de um coração.
Você que me fala da vida sem nunca ter se cegado, sem nunca ter sido surdo, mudo, paralisado...
Saiba que a vida é dos miseráveis, os que rastejam, os que trabalham, os que suam, os que choram, os que xingam, os que cospem, os que cagam, os que vomitam, os que devoram, os que são escravizados, os que respiram, os que pagam, os que fedem, os que sentem, os que amam, os que doem e latem e mordem e deitam e sem descansar levantam os que exaustos sorriem mesmo carregando o enorme fardo que é a vida.
Não fale de vida para mim. Ela não nos pertence.

L'Eternité de Rimbaud - uma tentativa de tradução. segue o original junto (não sei francês)

Ela foi reencontrada.
O quê? - A Eternidade.
É o mar que caminha
Com o sol.

Alma guardiã,
Murmuremos a confissão
Da noite, se crua
E do ardente dia.

Tu te libertas
Das vontades humanas,
Dos ímpetos comuns,
E voas de acordo.

Posta vossa solidão,
Brasas de cetim,
O Dever se exala
Sem que disséssemos: enfim.

Não há esperança
Tampouco criação.
Ciência com paciência,
O suplício é certo.

Ela foi reencontrada.
O quê? - A Eternidade.
É o mar que caminha
Com o sol.


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Elle est retrouvée.
Quoi ? - L'Eternité.
C'est la mer allée
Avec le soleil.

Ame sentinelle,
Murmurons l'aveu
De la nuit si nulle
Et du jour en feu.

Des humains suffrages,
Des communs élans
Là tu te dégages
Et voles selon.

Puisque de vous seules,
Braises de satin,
Le Devoir s'exhale
Sans qu'on dise : enfin.

Là pas d'espérance,
Nul orietur.
Science avec patience,
Le supplice est sûr.

Elle est retrouvée.
Quoi ? - L'Eternité.
C'est la mer allée
Avec le soleil.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Enquanto vomitava o estômago em labaredas, o passado turvo lhe escapava à vista... O que fizera, o que desejara, o que perdera já não eram importantes - esta era a magia da bebida. E a magia daquela dor flamejante em suas entranhas que o impedia de pensar em outra coisa. O céu estrelado talvez o censurasse, a lua cheia como um holofote em seu rosto, expondo-o à vergonha do mundo. Cuspiu saliva e vômito em desprezo. Foda-se o mundo! O que ele me fez? O que devo a ele? Jogou para trás os cabelos sujos e limpou o bigode desgrenhado. Sentou-se novamente e serviu-se de mais uma dose. Olhar aquela garrafa de uísque... e lembrar das outras garrafas de uísque que já foram... e pensar nas que ainda viriam... A derradeira e triste monotonia de sua vida lhe invadiu o coração, lhe expulsando lágrimas dos olhos. O que fizera, o que desejara, o que perdera não eram importantes... Via sua vida numa dose de uísque e talvez alguma coisa mudasse quando aquelas lágrimas a diluíssem.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Anseio II ou "talvez haja que se desconsiderar um pouco o autor... talvez os reais sentimentos não perpassem sua expressão escrita... estranho e assustador ver em nós o poder da dissimulação de forma tão... natural... mas é isso que somos, nós que nos damos ao luxo de escrever: dissimulados, dissimuladores; mentirosos e fantasiosos por vocação ou suor, com ou sem mérito. "

anseio pelo ar a esvaziar o pulmão de vácuo triste de desespero.
anseio pelo pulso quente a degelar as cálidas lágrimas de amor e luto, interrompidas, abortadas pela solidão.
anseio pela palavra, doce a desamargar o fardo de viver.
anseio tocar, ver, sentir,
anseio ser.
anseio, mais uma vez, ser.

anseio pela persistente tensão a me enlouquecer os pensamentos
anseio pela suave escravidão juvenil, as longínquas promessas, toscas, ingênuas...
anseio pelas taquicardias, as enxaquecas e as crises.
anseio pelo pânico, pelo desespero e pela esperança.
anseio pelos olhares, pelos sentidos...
anseio pelos errares, pelos confundidos...
anseio choro, moribundo e brilho radiante.
anseio o velho e o novo anseio.
anseio a ansiedade de amor novo...

anseio te tocar, anseio te ver, anseio te sentir,
anseio te ser.
anseio, novamente, te ser.
seu.


texto original: 
http://eunaoentendonadamesmo.blogspot.com.br/2013/12/anseio.html

A vida de João



Era um homem já velho, de sabedoria exposta nas rugas finas e nos cabelos ralos e grisalhos. Segurava um ancinho junto ao seu corpo e seu rosto cansado era ornado por um denso cavanhaque. Usava um terno escuro e amarrotado e sentava-se numa pilha de feno enquanto fumava um longo cachimbo. Levantou-se na medida em que João se aproximava.

- Quem é você? - questionou João, o coração disparado.
- Sou Shamus Abnergeidt. Sou a personificação de tudo o que você considera puro e sábio e estou aqui para servir de instrumento ao autor para passar suas próprias visões de uma forma superior à ordinária.
João não pôde responder. Sentia que aquele senhor falava de coisas muito importantes e cultas e essa história toda... Impressionava-se com cada palavra e ouvia como um noviço acostumado às estranhas brincadeiras do padre, entendia que naquele estranho homem encontrava-se a imagem do autor de como um guia deveria ser.
- Agora, João, - continuou Shamus - teremos uma conversa profunda e pouco verossímil sobre todas as coisas que o autor deseja abordar no livro, exibindo seu majestoso intelecto.
- Não brinca...! - exclamou João, pasmo.
- Sim, sim, e como isto é um texto de blog, seremos extremamente concisos e vomitaremos tudo de uma vez. O que significa que eu provavelmente falarei durante muitos e muitos parágrafos e minhas falas terão várias aspas para indicar que continuo falando, enquanto você, João, apenas me interromperá para exclamações de compreensão profunda ou epifanias exaltadas. Agora, João, você está pronto para esta jornada pelo ego do autor? É bom estar, pois ele é imenso!
- Acho... acho que estou. - respondeu João, hesitante.
Shamus sorriu o tipo de sorriso amável que você espera de uma mãe, um avô, papai noel, ou qualquer dessas coisas que servem pra confortar e começou a falar e fazer relações pouco convencionais ou coerentes por vários parágrafos sobre o céu, o mar, o ar, as estrelas, a moral dos homens, o universo, e essas coisas todas que não vamos dar importância porque... porque francamente ninguém está interessado.
João concordava, espantadíssimo e entusiasmado com o tanto que ele, tábula rasa imbecil e ignorante, o perfeito aprendiz com zero senso crítico, aprendia do enooooorme conhecimento do autor. Que aliás, é brilhante, diga-se de passagem e obrigado.
Enfim, não tem muito mais para falar por aqui, fica então o testemunho de como a vida de João mudou... a partir daí ele percebeu o mundo diferente e blá blá blá, essa coisa toda. Depois ele morreu, porque todo conto meu que se preze tem gente morrendo, especialmente protagonista. E fim.

sábado, 30 de novembro de 2013

Dois Josés e Milhares de Amarildos

quem tenta relativizar a prisão de genoíno e dirceu, comparando-a com a do amarildo e outros executados e perseguidos pelo estado deve saber que se trata de dois pesos e duas medidas. não se comparam.

amarildo é morto político, mas pelo descaso que o estado tem com os direitos humanos. amarildo antes de ser executado não participou ativamente da política nem muito menos tinha peso político. matar amarildo, pensavam, é repetir a rotina na favela, ninguém fora do morro sabe e não faz diferença. manter o morro nos enquadres que quer o governador, negligenciar as pessoas que lá vivem, explorá-las, etc... é a nossa máfia estatal e militar se pronunciando, como já faz há anos, há séculos. os marginalizados são executados ao prazer do estado sem grandes problemas. os meios de comunicação nunca tem a coragem ou a vontade de ir à periferia, ou mesmo de subir morro na zona sul. como falta coragem e vontade de dar voz aos manifestantes, black blocs ou não. os gritos na favela permaneciam inaudíveis, pelo menos até o caso amarildo, quando a classe média enfim tomou consciência da violência com que são tratadas as áreas "pacificadas" (e as não pacificadas, obviamente).

já a prisão dos "mensaleiros" sem prova representa uma outra face da cara suja do estado democrático de direitos brasileiro. com um stf comprado e absolutamente dominado pelo aclamado joaquim barbosa (que "finalmente trouxe justiça ao país", este, concordo, tão maltratado, mas dificilmente pelos nomes que estão agora atrás das grades), vimos a espetacularização da justiça, com julgamentos sendo transmitidos ao vivo e a cores, joaquim aparecendo em capas de revistas e sendo requisitado para presidência, a coisa era simples: ou iam presos ou iam presos. construiu-se uma certeza popular da culpa, não importa que sem evidências, de dirceu e genoíno e que o escândalo do mensalão era sim, sem a menor dúvida, "o pior e maior escândalo de corrupção que esse país já viu". mesmo quando escândalos maiores apareceram, esta certeza se mostrou firmemente sólida na opinião da mídia e de boa parte das pessoas. será? nunca se questionou tanto uma prisão. veremos...

dirceu e genoíno foram parte central do pt por muito tempo e, bem ou mal, representam alguma coisa. sua forte ligação com o partido ja seria considerado motivo para a desmoralização ferrenha que sofreram por parte da midia, talvez tentando contaminar o proprio pt na opinião pública - e conseguindo, em alguns setores. só pra constar: não sou petista e tenho milhares de críticas ao governo petista, mas a falta de provas, o peso político dos dois, a indisposição da mídia de uma forma geral de tratar de outros escândalos mais pesados que esse, a forma como esse caso foi tratado como uma coisa circunstancial, isto é, aconteceu porque eles são corruptos, ao invés de estrutural no sistema político brasileiro (impedindo, assim um desejável debate público sobre reforma política, uma de verdade), além, é claro, do dossiê do pizzolato (entre outras coisas, comprovando a ligaçao da globo com o escandalo), que agora está na italia com convicção de desmoralizar o julgamento do stf. isso tudo me faz crer sim que dirceu e genoíno, assim como provavelmente outros envolvidos, são sim presos políticos, encarcerados por interesses de classe, uma classe bem restrita. coisa, é claro, bem diferente da execução sofrida por tantos amarildos. estes, os anônimos, os mortos em números. os outros, os presos famosos. cada um com seu peso, cada um com sua medida.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013



Distorceram-me! Eu lhe juro: distorceram-me! Nunca fui ou fiz o que me acusam! Nunca lhes dera razão ou base para calúnia tamanha! Distorceram-me! Sempre mantive a compostura, a boa forma, os bons costumes da linha reta e contornos claros! Nunca ousei chegar para a cor além do que me é devido! Nunca, repito: NUNCA! fui borrão, espasmo ou tremido. Sombra, dobrado ou vibração! Jamais translúcido! Jamais indefinido! Distorceram-me de forma horrenda! Não tenho ou tive membros desproporcionais, nada em meu corpo de buraco ou fenda! Ouça-me, que agora me defendo e exijo respeito: Distorceram-me, que afirmo: jamais fui imperfeito!


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.
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* Quadro: Fantasma de um Gênio, de Paul Klee

Destraição

ei você, vem aqui, me destrair,
me distrair,
destrair
meu coração,
coração,
meu coração
partido.

Desparta
daqui.

Parte
de meu laço
Reparte
teu traço
Parto
do vácuo,
parte de seu sorriso vazio
e vão
vão
vão
embora
agora
seja tarde demais.

ei, você, vem aqui me destrair,
me distrair,
me destrair
te desbotar do meu coração.

sábado, 9 de novembro de 2013

Penso-te de forma errada, dizem-me.
Mas nunca fui de ouvi-los dizer-nos
o que pensamo-nos ou pensamo-lhes.
Foda-lhes para que fiquem-se felizes.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Perdia seu tempo chorando
Perdia horas.
Procurava em seu choro sentido
Que pudesse dar conforto.
Não encontrava.
Perdia seu choro pensando
Perdia lágrimas.
Procurava em pensamento razão
Que pudesse dar luz.
Não encontrava.

sábado, 2 de novembro de 2013



perdera a voz havia trinta anos... ainda tentava berrar desde então, mas perdera a voz. fora abafada. a suja palma da mão a abafara. perdera a sensibilidade havia quinze anos. agradecera. a força a fizera perder. a mesma força que a jogara no chão. a mesma força que tirara sua voz. a mesma força que tirava a tanto... não sabia porquê era com ela... não importava. desistiu de lutar há algum tempo: era inútil. o rio que irrompia de seus olhos há séculos era infindável. tentou olhar para as estrelas por algum tempo. até que se acabasse o inferno. por anos e anos ficou parada, imobilizada, tentando prestar atenção nas estrelas, como que para estar em outro lugar. "aposto que você gostou", disse o rapaz abotoando a calça. "puta", completou ao ir embora. continuou deitada observando as estrelas, desejando estar lá, o rio de lágrimas inundando o asfalto gelado e sujo.
quando a gente ouve um rio, sorri. quando vê estrela, vê o sol rosado no horizonte... lembra? quando estávamos à beira do abismo e você segurou minha mão? ali vi meu sol, meu rio, senti meu chão. aquele chão de terra molhada de chuva, aquele chão que cavalo pisa e a bota prende e que dá e é vida. você olhou para mim e sorriu. chão. respiramos fundo e caímos. o abismo tão raso, entre a floresta e as casas de sapê, a terra e o cimento esburacado. te vi sorrindo enquanto caíamos doces, os risos abertos e olhos fechados, o frio da barriga à espinha, as mãos dadas nos dando segurança, nos dando chão fresco.



meu avô dizia que olhar para cima, para o céu estrelado, dava tonteira, tão grande era o universo. imagino que estava certo. quando vi o clássico de kubrick, pude sentir a solidão do infinito em meu peito. e o tédio do tudo saber. o terrível e desesperador sentimento do nada que é cair no abismo invertido que é o espaço. fausto... eu comecei a ler a obra e nunca terminei... creio, pelo que sei dela sem ler, que ela deva ilustrar demais o que significa tudo saber... claro que meu avô dizia o oposto do que exemplifico com goethe... o universo é vertiginoso pelo tanto que se tem pra descobrir e aprender... vejo o oposto... o universo me é vertiginoso pois é negro, sem ar, sem som, sem informação nova... vasto...  como estar no universo pode ser absolutamente esmagador. o referencial apenas de si mesmo e das estrelas, tão maiores, mais quentes e mais luminosas... 



Ele só ficou ali, olhando. Nietzsche estava errado. era só ele. o abismo não aparecera para lhe fazer companhia.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Como nunca me furtei ao desagrado, tenho em sangue e osso os modos do desgosto. Conheço bem bem a dor, desde moço. Vejo mel em ancolia se acabar. E se caio, pois, a lágrima que todos brotam, sei muito bem de seu salgado paladar. Salgado então, que tem mais gosto do fel que é doce de abelha. arranha bom e gostoso, a ferida exposta, quase, quase morta, mas ainda respira aliviada. pinto apertado ao encontrar privada. puxada de ar de pessoa afogada. a vontade do suicida, sem a prática. o deleite de planejar a própria morte sem (necessariamente) executá-la. morte bem matada, cujo único agente é a tristeza. então não é suicídio! somos meros instrumentos da dor... velha maldada, mal-dita, mal-gozada que chega de vez em quando meio engraçada, sedutora, chamando-se para nosso dentro, para fazer do tudo um nada, e, trazer a paixão pelo nada; tudo! Transforma com habilidade o choro em mudo, transforma com habilidade o choro em mundo. mundo meio assim, meio gostoso. de autista furioso. de espaços e lacunas e mentiras a se contar. mundo a ser preenchido com o gozo e os sonhos de quem não se furta a chorar.

domingo, 13 de outubro de 2013

uma confusão incoerente e generalizada vinda de uma tentativa nada digna de fazer uma musica

tudo o que me fizeram meu e a cidade que me deu a mim
sente no próprio eu todas as coisas que me são em mim
faz parte de parte seu, que é eu, mas não é meu em si
faz parte de tudo o que sou eu que você tem em mim
que você tem em ti
que eu tenho em mim
que eu tenho em ti
que você tem em mim
tudo o que somos, sou, e o que és é pra mim o que é pra ti
tudo o que ficamos, estou, e o seu é meu e nosso enfim
todo o nosso amor que sinto, sou, és, ter-nos dos pés
ao céu e ao chão, então, infinito amor que tenho por ti
e tudo o que há em mim, és
tudo que há em ti, sou
tudo em nosso amor é
para ti, sou nós.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

parto natural

a luz do alvorecer lhe cegava os olhos. era daqueles alvoreceres virgens de área matada - viva. para ele, era como se fosse o primeiro alvorecer que via. o primeiro dia a nascer chorando e se debatendo, se revoltando com tudo e sedento por alimento, conhecimento e amor. todos os alvoreceres que presenciara anteriormente eram natimortos, abortados pela própria identidade morta de sua terra infértil, asfaltada cinza-de-tédio, tédio-de-morto. sentia-se nascendo com o sol, vermelho-sangue-de-parto, sangue de mãe. chorava, os olhos ardiam ante o mundo tão vasto e absolutamente empolgante e temerário além do conforto uterino. nascia bem e firme, nascia vivo.